Antigamente, tomávamos chá com cinco colheres de açúcar, e isso parecia completamente normal. Nós adorávamos: o sabor doce, o calor da chávena, a sensação reconfortante da infância. Naquela época, ninguém pensava em termos assustadores como “índice glicémico” ou “insulina”. Mas, com o passar dos anos, as coisas mudam.
O que antes era agradável agora pode causar danos. Hoje, esses hábitos transformam-se em diagnósticos dos quais nem a dieta nem os medicamentos conseguem nos salvar. Um deles é a diabetes. E ela não começa com doces. Começa com cansaço, sede e a sensação de que já não somos a pessoa que éramos…
Em Portugal, segundo dados oficiais, mais de 5 milhões de pessoas sofrem de diabetes. Contudo, até 35% dos casos permanecem não diagnosticados, o que significa que, para cada diagnóstico confirmado, existe pelo menos outro não identificado. Na prática, isso significa que um em cada sete adultos em Portugal tem diabetes.
Mesmo que nunca tenha recebido esse diagnóstico, isso não significa que não o afete. A maioria dos pacientes recebe a confirmação apenas quando a doença já está avançada. Quando os rins já estão comprometidos. Quando a visão começou a deteriorar-se significativamente. Quando o pé ficou dormente. Ou quando ocorre um enfarte — repentino, silencioso, indolor — porque a diabetes já teve tempo de danificar vasos sanguíneos e nervos. Sim, isso acontece: um enfarte indolor. Bem-vindo à realidade da diabetes.
O mais perigoso na diabetes é que nos sentimos normais. Até que o corpo falha. E não percebemos exatamente quando se chega ao ponto sem retorno.
Se tem mais de 45 anos, já pertence ao grupo de risco. Se tem excesso de peso, o risco aumenta de três a cinco vezes. Se costuma ficar nervoso, dormir mal, comer depressa, ter um estilo de vida sedentário… todos esses fatores somam-se como uma reação em cadeia até ao diagnóstico final. A diabetes não vem de fora. É consequência do estilo de vida. Por isso, muitos têm medo dos médicos: não porque não tenham diabetes, mas porque sabem que ela está lá.
E aqui estão algumas estatísticas assustadoras. Em P ortugal, mais de 70% dos pacientes com diabetes tipo 2 têm excesso de peso — na maioria dos casos, obesidade. Metade deles já sofre de hipertensão. Isso significa que os seus vasos sanguíneos já estão danificados há muito tempo. Aterosclerose, pressão arterial alta, edemas, falta de oxigénio… é neste cenário que se desenvolvem as complicações mais graves da diabetes:
- Os nervos morrem. Surgem dormência, cãibras e sensação de ardor. As pessoas perdem a sensibilidade à dor e podem perder dedos, pés ou pernas.
- Os vasos sanguíneos ficam danificados por dentro. O excesso de açúcar torna-os frágeis e quebradiços. Isso desencadeia uma reação em cadeia: AVC, enfarte, insuficiência renal.
- O cérebro deixa de receber nutrientes suficientes. A diabetes é um fator comprovado de risco para a demência.
- A visão deteriora-se. A diabetes é a principal causa de perda de visão no mundo.